terça-feira, 1 de junho de 2010

4.8: nasceu o benjamim, é mais uma vez pique!

Pois é!
A história dessa criança que é motivo desse alfarrábio, não é lá tão hilária e nem em sí tão insípida, já que permite que as novas gerações saibam mais da história desses Silva e Silvas.
Quando esse não "José"* nasceu, nossa situação era apertada mas bem interessante, porque foi nossa fase macaca. Explico:
Tínhamos vivido os dois ou três últimos anos no Bananal, no sertãozinho onde a Vilma nasceu, na casa sem parede (o que vale outra história), e agora morávamos numa quarta de um alqueire, nossa CHACRINHA tinha talvez, uns 130 por 50 m.
Como ainda desfrutávamos dos últimos rendimentos do bananal - a gente vendia banana madura na rua - digo: o pai, o Astolfo, e eu não me lembro muito de ter ido, talvez uma ou duas vezes: “ óh o baneneiro, ou melhor: “óh a bananeira, uma penca é dois cruzero e duas penca é cinco!”
Sim, nossa Mami, com seu histórico e imponente barrigão, botava uma cesta de bananas na rodilha, sobre a cabeça, e descia e subia, pelo menos as ruas do canto-direito-inferior da nossa Urbe, (parece-me que tb usava carriola, carrinho de mão), vendendo as frutas colhidas no sítio que fora nosso por pouco tempo e voltara ao domínio dos “Pereira”(Mauro Pereira, ficara viúvo e não fizera o inventário e tinha filhos menores, compramos o sítio de sociedade com tio Eneas, depois o direito dos herdeiros prevaleceu, ficamos só com o trabalho e usufruto).
Como dizia,... nosso meio quarto de alqueire, ficava na saída de Paranapuã; uns 400 metros do canto sudeste da City. Estava encravada entre duas chácaras de tamanho similar: a primeira, ao norte era formada de pasto e tinha um canavial e uma casa grande no fundo, a do sul era um pomar preponderante de frutas cítricas-(tinha umas tangerinas!!! a gente sempre colhia algumas...) e era habitada por um velho com umas filhas numa casa de madeira.
Ah, mas a nossa chácara é a que interessa; tinha um pequeno pasto na frente, uma bela macauveira, tinha também um pequeno pomar com mangueira e um bom lugar para o monjolo pedal engenhado, instalado e administrado pela Competente Dignorata. Foi nesse monjolo que entre outras coisas, socamos o milho para a farinha DIGNORATÍSSIMA e foi processado grão por grão.
Tinha galinheiro, e como não teria? Como agasalhar as matrizes que gerariam os 30, 40 ou mais frangos caipiras verdadeiros que enriqueciam a sopa e assim eram apreciados por quem criara e merecia, mas também eram admirados e desejados pelos bereiros, uma pequena roça que na época era um mandiocal.
Tinha um poço que foi abandonado e uma casa velha de madeira que praticamente caiu dias antes do nosso mascotinho chegar.
...
Era uma tarde quente da gloriosa Santa Albertina e nosso Herói Makita estava trabalhando na construção de uma casa nova de alvenaria para receber nosso ilustre Benjamim que estava para chegar...
O tempo armou de repente, e veio uma chuva daquelas de pouco aviso e muito vento.
A nossa Mocinha, tinha um medo de chuva; no começo ela começava a cantar: "Quando a tempestade ruge", depois arrumava um jeito de proteger a todos - ou em cima da cama ou debaixo da mesa - e o vento aumentando, a chuva caía por cima e pelos lados.... caiu parede . Aí a chuva passava de um lado para outro.
Gritar? Por quem? O Makita lá trabalhando com o seu Paulo Pereira, nos finalmente da casa nova, tomando alguns pingos, e a “nossa- coração- metade”, segurava a parede que ameaçava cair!!! Orava e chorava. E, esse mocinho aí, nem se tocava, também não precisava: estava protegido, não se sabe o quanto...
A chuva passou, como sempre passa, graças a Deus! E era o fim desse período, e a casa quase pronta estava prestes a receber o Benjamim, o protegido.
O Benjamim vai chegar!
Agora é que começa o trabalho.....
uma saca de milho socada, lata por lata....grão por grão!
umas quatro ou cinco, mas socados uns 10 litros por vez.....
coloca o milho no pilão... umas palhas rasgadas por cima....
um pouco de água para umidificar e não espirrar o milho fora do pilão

sobem dois primeiro: Fofô e Mimi; Será? põe o pé lá atrás,
joga o corpo, põe o peso todo no pé de trás....
todo peso pra trás ... o bicho impina... a mão do pilão fica lá em cima....
agora joga todo peso do corpo prá frente...
firme prá frente.... a mão do pilão desce e começa a machucar o milho.....
e lá se vão duzentas trezentas piloadas....

agora descem ... sobem eu e a Cecê...
(somando isso tudo com preguiça e todos os vermes... dava lá uns 50 a 55 quilos.)
manobras repetidas e persistente, até que o milho começa a quebrar.....
Pensa num serviço que vai demorar dois dias ou mais!
Cada etapa; a primeira quebra os grãos.
limpa, tira a pele e o germem, para poder curtir.
A segunda etapa, depois de curtido,
embora mais fácil tem a parte da farinha,
tem que passar no forno. Fazer biju por biju....

(ah se fosse hoje?Cecê, Dedê, Fefê, Fofô,...etc....
esses 90, 100, 110 kg cada um
Ia ser moleza socar milho.. arroz.....
que tal MAMI restaurar o monjolo?)
[acordei.... foi um sonho indiscreto]

tem que abanar... jogar fora as peles.
o bagaço do germem, (coração) e olha só
os franguinhos que estão sendo preparados para a sopa,
entre brados e palavra de ordem pros filhos não amolecerem no serviço,
ela conversa com os pescoçotos
que vão engrossando o pescoço e ficando prontos
enquanto o milho vai curtir e ser lavado
e prorrogado o molho por mais duas semanas......

o pé descansado....o milho curtido....
agora volta para o pilão....
e todo processo do pé e peso prá trás....
o monjolo ergue o pescoço..
peso pra frente... a mão afunda no milho curtido.....

agora é mais poco.....(sic)
agora é mais macio, mais fácil... tá mais perto de ver o biju....
o fogo na fornalha aquece o fundo do forno....
a Interessante Dignoratha tá lá na beira do forno e do fogo,
enquanto os filhos mais velhos balançam os cambitos
em cima do monjolo, pra que o milho curtido seja muido
e transformado numa espécie de fubá molhado.....

ela vai passando cada punhado na peneira,
o milho que estava até acostumado com o fresquinho da água na lata,
depois de passar pela sova do pilão e da peneira,
cai no tacho: fundo, largo e quente,
pelas brasas e chama persistentes do angico
que arde amontoado na fornalha.

O biju vai ficando crocante.... .....hum!!!
os primeiros não escapam das bocas secas
famintas que pululam o local !!!!
pra quem levantou às seis e meia....
foi no grupo....almoçou sei lá o que,
balançou o esqueleto
em cima daquele estaleiro de madeira feito gangorra até as oito da noite....

que consolo saber que quando sair a primeira sopa,
quem sabe "eu posso" pelo menos rapar a panela....
a tigela da mãe.... ah, isso está fora de qualquer possibilidade....

que saudade.. que vontade de não acordar.....
e, assim quatro latas vão ficando cheias
daquele biju de milho feitos em maio de 62, ..
Feitos pelo simples e inusitado motivo de que
o benjamim vai nascer.....
Bem vindo, EDER Benjamim da SILVA!
por celso josé da silva



 
 
 
 

3 comentários:

Edjane disse...

Tio eder, todos amamos vc e sua companhia e espero que tenha gostado da maneira como cada um expressou isso hj.
O Snehor tem o melhor pra aqueles q o buscam em verdade. Vc já recebeu e receberá ainda mais.
COm mto amor
Edi BEnto

Gessel & Cenira disse...

OH SEI QUE NÃO SOU MAIS A MESMA ...
MAS O AUTOR DESSE POST MESMO ESTANDO LONGE, ME FEZ CHORAR,,, EDER VOCE VALE MUITO,FICA DIFICIL NÃO CONTAR HISTORIA,QUEM TA NO MEIO SEMPRE É EXPREMIDO,,, POR QUEM CHEGOU PRIMEIRO ,E OS ULTIMOS ,MAS TB FICA PROTEGIDO ,QUEM LEVA OS PRIMEIROS TIRO SEMPRE SÃO OS DAS ESTREMIDADES ACHO QUE CADA UM CHEGOU NA VEZ QUE NOSSO DEUS QUIS SEI QUE NO CEU JA TEMOS NOSSO LUGAR PREPARADO,,,O SENHOR JESUS FOI PREPARAR UM LUGAR PRA NOS,SEM GOTEIRA,E COM MANJARES,,ISSO É BOM DE MAIS,,,ABRAÇOS,,,,

Re disse...

é família... só quem tem pode saber o valor. e só qd afastamos um pouco sabemos a falta que faz.
essas historias azeitadas com sangue, suor, e fé, num amanhã melhor ou mais dificil... que seja, mas que seja com ELE.
E TUDO ESTÁ BEM. CoMO disse meu vovô querido, qd já sequelado na carne (e na vista) mas intacto no espírito, Qd questionado por essa neta incansável de cansa-lo, querendo curtir todos os momentos, como se fosse o último*: "VovÔ qd o sr fecha os olhos o que vê? A resposta vem calma como um ventinho que entra pela janela entre aberta; "Vejo a glória de Deus Beca" e eu querendo outra resposta para medir a gravidade daquela recaída física, me apressei em completar: 'E quando abre os olhos vovÔ o que vc vê??? E a resposta vem segura como cremos que Ele vive. "Vejo a glória de Deus!" e eu que pensava ser seus ultimos suspiros, cri naquela hora, que o Papai já estava na Glória, nossa mente não o pode entender as coisas do espírito... mas esse é o nosso legado. Como os mais velhos abriram caminho, plainaram para os que vinham depois... assim também o vovÔ está na Glória plantando uns pés de mandioca, pra qd chegamos lá... só fritar.
Assim é a vida, sempre preparando-se para as bodas do Cordeiro, assim foi como tio Benjamim e com todos os outros... antes e depois. Só tio Fofo que não teve almofadinha, mas teve o colinho da Dna Mocinha só pra ele. rs

Parabéns tio Boca Santa.

beijo Beca